Nas últimas décadas o mundo rural foi-se gradualmente desertificando, sendo gritante a amplitude demográfica entre a cidade e o campo. Dados da OCDE(1) denunciam que cerca de 80% da população europeia reside em zonas urbanas, o que denunciará um inevitável desconhecimento (senão total, parcial) dos costumes e vivências rurais.
Há por um isso todo um património imaterial e material por redescobrir, valorizar e promover. Em Portugal têm surgido vários projectos que dinamizam o património rural através do turismo, da pedagogia e da inovação de produto. Partilho alguns casos convosco:
Aldeias do Xisto – Uma Marca Territorial Forte
Projecto integrado de desenvolvimento sustentável com uma rede de 27 Aldeias do Xisto, distribuídas por 16 concelhos das regiões Pinhal Interior Norte e Pinhal Interior Sul.
Liderado pela ADXTUR, em colaboração com vários municípios e entidades privadas, a marca nasceu em 2001 na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro com o objectivo de gerar riqueza no território através da oferta de serviços turísticos conjugados com a preservação da cultura e paisagens, dinamização das artes e dos ofícios tradicionais assim como a valorização do património e dos produtos locais.
Na última década, criou-se um conjunto de infra-estruturas como centros de BTT, praias fluviais, circuitos para pedestrianismo e BTT, e lojas com produtos tradicionais. Foi ainda implementado um programa de actividades anuais como ciclos de música (Jazz, Fado e cânticos tradicionais), concursos de fotografia, mercados e festivais gastronómicos entre tantas outras. O centro de Portugal espera pela vossa visita: www.aldeiasdoxisto.pt.
Pormenor da Loja Aldeia do Xisto da Figueira (Proença-a-Nova). 2009
Portela - A Aldeia Pedagógica dos Mestres Avós
E se uma aldeia fosse um espaço de aprendizagem? Portela, no distrito de Bragança, valoriza o saber fazer dos seus habitantes que orgulhosamente o transmitem a crianças, adultos, famílias e grupos de amigos.
O conceito Aldeia Pedagógica nasceu em 2010 pela mão da Azimute, uma associação local, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian no Programa Entre Gerações.
Na Portela de Bragança aprende-se a fazer o pão, compotas, apanhar ervas medicinais ou a tratar da horta e dos animais com os habitantes da aldeia - um programa mágico para quem quer conhecer melhor as lides do campo na primeira pessoa.
Estes Mestres avós guiam os visitantes pelas várias tarefas, contando histórias sobre o passado da vida na aldeia, partilhando o conhecimento adquirido ao longo de gerações.
De que está à espera para visitar a Portela? Visite: www.aldeiapedagogica.net
Casa das Tecedeiras, Janeiro de Cima (Fundão). 2009
Querença – Repovoar com inovação e juventude
Querença é um laboratório vivo que procura soluções para territórios desertificados que foram desvalorizando os seus capitais natural, produtivo e social. É um projecto piloto para futura replicação noutros territórios despovoados.
Orientado para áreas rurais de baixa densidade, pretende potenciar oportunidades em territórios desfavorecidos, ao mesmo tempo que promove o emprego de jovens licenciados em situação profissional precária. Para isso, recorre a uma abordagem territorial inovadora que incentiva à fixação no interior de população recém-licenciada.
Em 2011 constituiu-se uma equipa com 9 jovens licenciados da Universidade do Algarve, que se mudou e instalou em Querença com um grande desafio: fazer o levantamento dos recursos locais (naturais, rurais, culturais, sociais), estudá-los, testá-los e trabalhá-los numa perspectiva de valorização e rentabilização sustentável. Esta equipa de trabalho desenvolveu várias actividades associadas à agricultura biológica, ecoturismo, jardinagem sustentável, utilização de novas tecnologias e criatividade, algumas das quais com forte viabilidade económica.
Querença nasceu da cooperação entre a Universidade do Algarve e a Fundação Viegas Guerreiro de Querença, com a posterior associação de entidades como a Fundação Calouste Gulbenkian, Câmara Municipal de Loulé, Instituto de Emprego e Formação Profissional e Junta de Freguesia de Querença, e outras entidades privadas.
Conheça melhor Querença em www.projectoquerenca.com
Estes projectos valorizam de forma complementar e inovadora este admirável velho mundo que começa a reinventar-se através da valorização do património, território e empreendedorismo, revelando um novo meio rural que merece ser redescoberto.
São a prova viva que o património natural, humano, cultural e social está a ser recuperado e activado no interior do país. Há que divulgá-lo (ainda mais) para que os consumidores nacionais e estrangeiros usufruam desta nova realidade.
Urge dar visibilidade ao nosso património endógeno nas suas mais variadas expressões. Por isso, lanço-vos um repto: passem a palavra e partilhem estas iniciativas. Activemos o património nacional juntos.
De que estamos à espera para usufruir dos segredos mais bem guardados de Portugal? Venham redescobrir o nosso património rural vivo!
1 http://www.oecd.org/governance/regionaldevelopment/urbandevelopment.htm